Maragogi: Professores do IFAL sofrem intimidação de pai de aluna

Defensor da Escola Sem Partido ameaça processar IFAL por propagação de ideologia de gênero e doutrinação política

A liberdade de expressão e de cátedra está sendo ameaçada no IFAL Câmpus Maragogi.  Na última semana, após uma aula sobre o fascismo, um pai de uma aluna resolveu ameaçar processar o IFAL e dois de seus professores por propagar “ideologia de gênero” e doutrinar politicamente seus alunos, ferindo autonomia dos pais.

Através de uma notificação extrajudicial destinada ao diretor do Câmpus Maragogi, o responsável pela estudante alega que “recentemente se verificou um ato abusivo de um dos docentes, rebatendo qualquer afinidade ao apoio ao candidato a presidente Jair Bolsonaro”. Além disso, acusa docentes de propagar conceitos esquerdistas e de fazerem apologia ao PT.

No documento, há um pedido de retratação dos docentes Renato Bittencourt (filosofia) e Carlos Filgueiras (história) e a abertura de Processo Administrativo Disciplinar, sob a pena de processar a Instituição via Ministério Público Federal e ser movida uma ação de reparação na Justiça.

Um dos professores ameaçados, Renato Bittencourt, em resposta à direção do Câmpus, tratou o caso como uma perseguição à atividade docente.

“[Enquanto] educador de uma autarquia pública federal é meu dever (e cumpro com total rigor) promover o debate de ideias plurais no sentido de construir coletiva e democraticamente o conhecimento com os estudantes, promovendo reflexão crítica e autônoma”, afirma o professor, reivindicando o papel inerente à sua disciplina de questionar e fazer refletir a realidade.

A notificação acusa o IFAL de possuir “professores militantes” que abusam “da boa-fé do adolescente para produzir em seu espírito a vontade de engajar-se nas lutas sociais e de atuar politicamente em favor daquilo que lhes é apresentado como sendo uma realidade justa”.

Para o Sintietfal, essa notificação extrajudicial é uma clara perseguição aos docentes e um atentado contra a liberdade de expressão e de cátedra. “Não podemos permitir que nos aviltem no exercício da nossa profissão, como está sendo feito em Maragogi. Precisamos reagir e combater com firmeza toda onda de fascismo e de intolerância que tem invadido as nossas escolas e todo o país”, afirmou Silvia Regina, vice-presidenta do Sintietfal.

“Somos solidários aos dois docentes e nos colocamos contra qualquer tipo de autoritarismo dentro das instituições. Essa é mais uma tentativa de impor medo aos docentes e querer aplicar, na marra, o projeto da extrema direita, denominado ‘Escola Sem Partido’”, completou a sindicalista.

O professor, que já foi vítima de cyberbullyng e da tentativa de invasão de sua conta no facebook por alunos defensores de Bolsonaro e do fascismo, afirmou que não se intimidará diante dos ataques.

“Estou compartilhando isso, justamente, para unirmos forças, unirmos depoimentos e não cair no medo. Não deixar se abater. Estou firme e convicto que isso faz parte da luta”, afirma Renato, em áudio que viralizou nos grupos de whatsapp.

Em consonância com o deliberado na Assembleia Municipal de Maceió, realizada nesta terça-feira, o Sintietfal atuará intransigentemente na defesa do direito democrático dos servidores e de outros setores oprimidos na sociedade.

“O Sintietfal é um sindicato que está na luta contra o autoritarismo e pela democracia. Somos solidários e acolheremos todos que estejam sofrendo perseguições dentro e fora do IFAL. É necessário, nesta conjuntura, somar forças e resistir em defesa dos direitos e espaços democráticos já conquistados”, prosseguiu a vice-presidenta.

Desdobramentos

A diretoria do Câmpus Maragogi, através de sua assessoria de comunicação do IFAL, informou à imprensa que está apurando o caso para saber se houve infração pedagógica. Confira a nota na íntegra:

O Instituto Federal de Alagoas (Ifal), campus Maragogi, esclarece que está tomando as providências pedagógicas em relação ao caso dos professores do campus que teriam abordado conteúdos políticos-partidários na instituição. O caso foi encaminhado ao departamento acadêmico, que terá dez dias para ouvir os envolvidos no ocorrido. A direção vai montar uma comissão interna para avaliar, se de fato, ocorreu a infração pedagógica no campus. A direção do Ifal Maragogi está à disposição para os possíveis esclarecimentos.

Para o Sintietfal, o IFAL erra ao se posicionar publicamente, informando abrir investigação contra os seus servidores. “Os servidores, na realidade, estão sendo vítimas de uma perseguição ilegal. É um absurdo aceitar que se aja como se estivesse em vigor uma lei que foi considerada inconstitucional”, afirmou Yuri Buarque, diretor jurídico do Sintietfal, em alusão à versão alagoana da lei da mordaça. A Lei “Escola Livre” teve a inconstitucionalidade reconhecida pelo STF em março de 2017.

5 Comentários em “Maragogi: Professores do IFAL sofrem intimidação de pai de aluna

Sueli Macedo
11 de outubro de 2018 em 13:21

Será que diretores atuais no ifal esqueceram a luta que travamos para trazer a democracia à instituição?!
Como podemos pensar em transformar instituições de educação em possíveis centros de apoio à barbárie, inclusive com agressões, ameaças a educadores em pleno exercício de suas atribuições, por alunos que querem impor suas ideologias, mas actediyam que não precisam respeitar o debate inerente a suas disciplinas?
Não se pode conceber que colegas eleitos diretores/Reitores esqueçam sua responsabilidade e compromisso com a educação que forma cidadãos de fato.
Nosso compromisso é educar, não ser cúmplice de um sistema onde o facismo seja estimulado pela submissão de profesdores conscientes de sua função ao crivo de quem desconhece aa competências dos profissionais de acordo com sua formação.
Todo apoio aos professores. Respeito aos mesmos, essencialmente, pelos gestores!

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Jonas
12 de outubro de 2018 em 16:46

Que perseguição? Sou aluno do IFAL e sei muito bem da militância que há por parte de alguns professores e do viés doutrinário, sim, de parte doa eventos! Total apoio ao pai!

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Zamenhof José Cavalcanti Sitônio
12 de outubro de 2018 em 17:25

Minha total e irrestrita solidariedade a esse pai. Eu não faria diferente. Lugar de escola, colégio, instituto, faculdade, é ensinar matérias que preparem o aluno, para se formarem a atuarem no mercado de trabalho.
Fora disso, é abuso. É covardia. É doutrinação de incapazes. Ação canalha e lesa-Pátria! Processem esses professores, e se constatada a irresponsabilidade, Exonerados à Bem do Serviço Público. Respeitem o Brasil e a Família!

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Alisson Machado
12 de outubro de 2018 em 17:46

Os pais estão certos de manifestarem seu repúdio a esses absurdos cometido pelos professores, a ideologia de gênero já provou ser um crime, onde que a escola como instituição deve ensinar sexo, e que mulher não nasce mulher, e homem não nasce homem. Que é uma construção social!
Esses professores estão usando a instituição (Sintietfal) para formar militantes para partidos de fies esquerda.

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Cris Lopes
13 de outubro de 2018 em 02:28

A Constituição é soberana.
Intolerável atitudes que tetam impedir a liberdade de cátedra e o debate amplo e plural na formação do saber.
Indefensável a atitude da Universidade em abrir investigação sobre algo que por direito deve ser defendido: liberdade para a construção do conhecimento.

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