MEC insiste em manter a data do Enem 2020
Insensibilidade, teimosia e birra: na marra, na contramão de grande parte dos países, contrariando as recomendações de entidades e conselhos de Educação, desconsiderando reclamações de escolas, divergindo de educadores e sem apreço aos pedidos dos estudantes, o Ministério da Educação (MEC) abriu ontem (11/05) o período de inscrições para o Enem 2020.
Com as incertezas em torno do avanço da pandemia da COVID-19, que já soma no país mais de 172 mil casos com 12033 mortes, será a edição mais perigosa do principal exame de acesso ao ensino superior do país. Com a paralisação das aulas presenciais e a substituição desigual por estratégias de Educação a Distância (EaD), às quais o SINASEFE já manifestou sua contrariedade, será a edição mais injusta da história do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Há método na insistência. Exibindo fidelidade canina a Bolsonaro, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, lança mão dos mesmo padrões de comunicação do seu “chefe supremo”. Para encobrir uma gestão ruinosa, provoca a audiência em performances patéticas e disputas insignificantes. É conhecida sua obsessão com o painel de Paulo Freire instalado à frente do MEC. Prosseguir com prazos inflexíveis para o Enem é, em certo sentido, mais uma cortina de fumaça – há previsões de que o surto dure pelo menos até o fim do ano e o MEC terá de capitular ao adiamento.
A diferença é que, agora, Weintraub não está brigando com um mural inanimado ou com um delírio de sua mente apalermada, como a suposta “doutrinação comunista” nas escolas. Ao teimar no Enem, brinca com a vida de mais de 5 milhões de estudantes – e de milhares de servidores e outros profissionais que, para viabilizar o exame, terão de ser mobilizados para trabalhos presenciais e em grupo, da formulação de questões à impressão do cadernos de prova.
No repulsivo vídeo de divulgação da edição 2020, o MEC indaga: “E se uma geração de novos profissionais fosse perdida? Seria o melhor para o nosso país?” É outra aposta na desinformação. Adiar o exame e aguardar o retorno das aulas presenciais, como propôs o Conselho Nacional de Educação (CNE), não significa que quem deveria concluir o Ensino Médio em 2020 não possa fazer o Enem. O ano letivo não precisa coincidir com o ano civil. “A vida não pode parar”, outra das frases da peça, é exatamente o contrário do que se precisa agora. Diante das mais de 12 mil mortes por COVID-19 e uma curva ainda ascendente no país, suspender planos e atrasar – possivelmente em alguns meses – um exame seria a coisa certa a se fazer.
A adoção de aulas online (EaD) tem sido cercada de polêmica. Não dá para agir como se o que estivesse acontecendo fosse uma simples substituição. Há atividades prejudicadas e outras simplesmente insubstituíveis no ambiente online, sobretudo as que envolvem projetos, debates e interações em grupo. Embora Weintraub insista que a pandemia atinge a todos por igual, as condições de oferta da EaD variam enormemente. Sai penalizada a parcela mais vulnerável da população – sem acesso à internet, estudando em redes com infraestrutura precária e atendida por professores sem familiaridade com a tecnologia, que fazem o que podem diante de soluções improvisadas para continuar ensinando. Do outro lado, alunos de redes educacionais privadas contam com uma variedade de opções, de simulados corrigidos em tempo real a plantões de dúvida e auxílio psicológico por internet. Adquirem uma avenida de vantagem na competição por um posto nas instituições mais cobiçadas.
As evidências não comovem o MEC. Ao contrário: em seu infame perfil no Twitter, Weintraub faz de tudo para encaixar a polêmica dentro da chave amigo-inimigo tão cara ao bolsonarismo.
Sem corar, acusa os opositores de fake news ao dizer que “apenas” 28% dos candidatos estão cursando o terceiro ano do Ensino Médio (o “apenas” se refere a 1,5 milhão de estudantes); tergiversa “denunciando” que as eleições não serão adiadas (se a pandemia persistir, precisarão ser – e ele que cuide de sua seara); diz que os pedidos de adiamento partem de “políticos de esquerda” (quando a mobilização da sociedade civil é suprapartidária).
Lança-se ao ataque com prazer porque, como o seu “chefe supremo”, é o único jogo que sabe jogar. Como o seu “chefe supremo”, descredenciado técnica e eticamente para o cargo que ocupa, inverte acusações e acusa perseguição. Como o seu “chefe supremo”, subordina vidas humanas à politicagem cotidiana.
Por Sinasefe com informações do Uol