Campanha do Sintietfal leva solidariedade a indígenas do sertão de Alagoas

Povo Jeripancó recebeu 50 cestas básicas e materiais de higiene

A campanha de solidariedade do Sintietfal chegou também aos povos indígenas de Alagoas. No último sábado, 11 de julho, o povo Jeripancó recebeu 50 cestas básicas e materiais de higiene para combater os efeitos do Covid-19.

A doação teve o valor total de R$ 4 mil e beneficiou os indígenas da cidade de Pariconha, sertão de Alagoas. Foram 30 famílias indígenas em situação de vulnerabilidade no povoado Poço da Areia e outras 20 nos demais povoados que englobam a aldeia.

Para Marina do Nascimento, a doação foi importante para apoiar materialmente as famílias que tiveram suas rendas drasticamente reduzidas. “Uma boa ação que veio em um momento em que essas famílias estavam necessitando, principalmente nesse tempo de pandemia em que o único meio de sobrevivência é através dos benefícios do Bolsa Família ou do auxílio-emergencial”, afirmou a indígena da equipe de saúde indígena da aldeia.

Os Jeripancós descendem dos Pankararús, do aldeamento do Brejos Padres (PE), e tiveram seu reconhecimento étnico pela Fundação Nacional do Índio (Funai) na década de 1980. A aldeia engloba seis povoados, mas não possuem a posse do território tradicional demarcado. Apenas uma pequena área, entre as serras de Pariconha, foi reconhecida pela Funai.

“Por esta condição de desterritorialização e negação dos direitos originários, vivem em pequenas áreas adquiridas pelas famílias indígenas ao longo dos anos. Nas pequenas posses de terra, os Jeripancós praticam seus rituais tradicionais como o toré, Corrida do Umbu, Menino do Rancho, dança dos Praias e a Queimada do Cansanção; Desenvolvem a Educação Escolar Indígena diferenciada e contextualizada valorizando a cultura e a tradição indígena, se destacam pelo trabalho com a juventude e o reconhecimento dos mais velhos”, afirmou Hélio Pereira, membro do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e um dos responsáveis pela rede de solidariedade do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas junto aos indígenas.

De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), já são 14793 casos confirmados e 501 indígenas mortos pela Covid-19. Em Alagoas, foram registrados 104 casos confirmados e dois óbitos até o dia 13 de julho.

“Infelizmente o vírus já chegou na nossa aldeia, mesmo tomando todas as medidas de proteção. Felizmente, os casos estão sendo muito bem monitorados pelos profissionais da saúde e até agora não temos nenhum caso grave. O que podemos fazer é contar com toda a comunidade e tomar todos os cuidados possíveis para o vírus não disseminar ainda mais na nossa aldeia”, afirmou Marina do Nascimento.

Ainda segundo dados da Apib, 130 povos indígenas já foram afetados pelo Covid-19. Para além da situação dos óbitos, Hélio Pereira explica outros impactos nas comunidades tradicionais. “Nestes tempos da pandemia, a situação dos indígenas tem se agravado devido à falta de geração de renda para a população, gerando prejuízos para o bem estar social e segurança alimentar, pois devido as barreiras sanitárias e suspensão das feiras livres do município os indígenas não podem comercializar seus produtos advindos da agricultura, paralisaram a venda de artesanato nas viagens e eventos indígenas, além da paralisação dos empregos nos centros urbanos, fazendo com que aconteça o retorno para as comunidades”, explicou o indígena.

Diante da situação, o representante do CIMI frisou que o auxílio-emergencial é insuficiente para as famílias que tem essa como a sua única fonte de renda. Além disso, denunciou que muitas pessoas não conseguiram receber o apoio do governo.

“A cesta básica é um paliativo importante para estas famílias, mas é preciso que Estado coloque em prática políticas especificas, diferenciadas e direcionadas para as comunidades indígenas no sentido de superar os efeitos desastrosos da pandemia. É preciso que o governo Federal cumpra os artigos 231 e 232 da Constituição Federal de 1988, garantindo a demarcação dos territórios tradicionais, protegendo-os e garantindo políticas públicos especificas para os povos e comunidades tradicionais e o Projeto Popular do Bem Viver”, concluiu Hélio.

A doação na aldeia indígena contou com a parceria do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas e o apoio da equipe de saúde indígena da Secretaria Especial da Saúde Indígena (SESAI).

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *