Live do Sintietfal: Doutora em Educação relata problemas do ensino remoto no IFCE

Exclusão, ensino sem qualidade e futuro de precarização são apenas algumas faces do ensino remoto abordadas pela professora do IFCE e doutora em educação, Madalena Silva, em palestra realizada nesta quarta-feira, 19 de agosto.

A live “A experiência do ensino remoto no IFCE” foi transmitida pelas redes sociais do Sintietfal e fez parte da abertura da Assembleia Geral, realizada simultaneamente pelo google meet, que também abordou sobre o tema.

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“Que vocês resistam e consigam barrar o ensino remoto pelo contexto, pela política que está desenvolvida, pelo nosso aluno. Nós temos que respeitar as condições que eles estão vivendo, para que a gente esteja numa instituição inclusiva”, afirmou a professora Madalena.

No IFCE, diante da pandemia, decretada pela Organização Mundial de Saúde no dia 16 de março, o calendário letivo foi suspenso no dia 23 de março. Apesar de o calendário estar suspenso, assim como no IFAL, as atividades acadêmicas continuaram acontecendo. “Apenas as disciplinas curriculares estavam suspensas. Nesse período, foram desenvolvidas outras atividades: lives, grupos de estudos, pesquisas de conectividade e equipamentos disponíveis, formações sobre tecnologias educacionais, cursos FIC em casa (extensivos à comunidade externa)”, descreveu a docente.

Mesmo com a pesquisa deixando de alcançar mais de 1/3 dos/as alunos/as, a reitoria do IFCE definiu retomar o calendário letivo sob o argumento de evitar a evasão. “Nós tivemos que voltar e fazer a atividade remota porque a reitoria não ouviu nenhum dos segmentos”, disse Madalena ao relatar as cartas, as notas e os documentos contrários ao retorno, redigidos pelo movimento estudantil, pelas pedagogas, pelas assistentes sociais e por diversos outros segmentos que se pronunciaram publicamente. As disciplinas curriculares, com exceções de aulas práticas e de laboratório, retornaram dia 1 de junho.

“Não discutimos a qualidade da educação, os impactos na realidade dos alunos, a exclusão que está posta. No mínimo, 30% já está fora desse processo e alguns alunos que não aceitaram voltar escreveram que não acreditam na modalidade de ensino ou não tem condições de internet”, afirmou a professora Madalena ao explicar o processo de adoção do ensino remoto no instituto que leciona. Na instituição, as/os mães/pais ou os próprios alunos/as, no caso dos maiores de idade, tiveram que preencher um termo de aceite concordando com o ensino remoto ou trancar o curso.

Hoje, 70% dos/as alunos/as no IFCE assistem aulas pelo celular e não se tem o levantamento em que ambiente. A licitação para compra de chips telefônicos também não serviu para todos os que necessitavam, pois a operadora vencedora não possui sinal de internet em várias localidades do interior. Devido a isso, a professora relatou que alunos preferiram nem se dar o trabalho de ir buscar.

“Lamento por minha fala não ser animadora (…) Eu não acredito no ensino remoto e não acho que esse deva ser nosso papel enquanto instituição. É difícil você ter um discurso que anime as pessoas a fazerem. A luta é de resistência mesmo”, acrescentou Madalena.

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A doutora em educação também demonstrou grande preocupação com o futuro da educação pública no Brasil a partir da conivência dos Institutos Federais com a forma de adoção do ensino remoto

“A Rede Federal está alinhada ao governo, a um governo que o pensamento é destruir a educação pública. Porque desde que o MEC propôs, o que a rede federal tem feito é simplesmente seguir o que está sendo posto. Em nenhum momento, houve resistência da própria rede: não dá para ser feito. Foi trazendo para a gente e impondo”, disse Madalena Silva.

A professora alertou que é preciso os/as educadores/as estarem atentos à política educacional que está sendo praticada. “O ensino remoto pode não ser uma simples experiência que estamos vivenciando nesse momento, ele pode ter vindo para ficar. Se nós hoje temos um quadro de que falta professor, como essa falta de professor será resolvida depois dessa experiência? Em nenhum momento a gente despreza o uso da tecnologia. Mas não é a tecnologia que estamos questionando é o processo, a inclusão”, problematizou.

Para Madalena, a política educacional, desde o governo Temer têm sido de fragilizar o ensino presencial, cortar investimentos e ampliar possibilidade de educação a distância dentro das instituições públicas.

“O que o MEC e as empresas educacionais, que estão de olho na educação pública, como vão se aproveitar? A educação está fragilizada, a reforma do ensino médio é uma porta aberta [para a precarização]. Então, o ensino remoto permitirá ‘que o governo resolva alguns problemas’, justamente pelo barateamento que o ensino remoto significa. Essa é uma preocupação que não podemos perder de vista”, acrescentou Madalena.

A professora do IFCE lembrou ainda outros problemas para a formação dos/as estudantes relacionados a ausência do ambiente escolar. “Estamos perdendo o princípio educativo, que é justamente o diálogo com os/as nossos/as alunos/as, com as experiências. O que é a educação se não a integração e esse ato de conviver com os alunos, essa troca de experiência diariamente. Esse é o princípio da educação e de estar na sala de aula, fazendo o acompanhamento e o crescimento dos/as nossos/as alunos/as, coisa que o ensino remoto não permite”.

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