Nota pública: Em Defesa de uma Educação pela Vida

O Brasil caminha para ultrapassar 100 mil mortes por COVID-19 nos próximos dias. É necessário repetir exaustivamente que não é só um número, eram vidas! Familiares queridos e queridas que tiveram suas histórias abruptamente encerradas, sem permitir sequer um último abraço de adeus ou mesmo o ritual de despedida marcante em nossa sociedade. É necessário lembrar que o governo Bolsonaro caminha para três meses sem Ministro da Saúde. Portanto, a realidade cruel é que a pandemia no país está longe de ser controlada, como vem alertando a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Nesse contexto, apesar da suspensão das aulas, desde o dia 18 de março de 2020, os/as servidores/as do Ifal continuaram trabalhando, sejam nas atividades administrativas, sejam nas atividades educacionais – readaptando e reconfigurando sob uma nova perspectiva. Salientando que as atividades de pesquisa e extensão continuaram sendo desenvolvidas, em todos os campi e em grande monta.

O que faltou nesses meses de pandemia foi uma maior publicidade das ações, por meio dos veículos de comunicação, por parte dos representantes do Ifal, junto a população alagoana. Tanto a reitoria, como as direções dos campi, não efetivaram o necessário debate com a sociedade, no sentido de ocupar os espaços da mídia, no rádio ou na televisão, seja para debater com a sociedade a realidade nefasta com a continuidade da pandemia no Brasil, seja para enaltecer os diversos trabalhos realizados pelos servidores da Instituição nesse período de suspensão do calendário letivo 2020.

Não bastasse essa inércia, a decisão da Reitoria e dos Diretores dos Câmpus é de levar a cabo a implantação do Ensino Remoto Emergencial, a partir do dia 31/08/2020, sem um diálogo aprofundado com toda a comunidade escolar, especialmente, sem ouvir o corpo docente acerca do melhor momento e das condições básicas para esse processo.

O Sintietfal, representando o coletivo de servidores e servidoras que compõem o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Alagoas – Ifal, após amplo debate realizado em Assembleia Sindical virtual, no dia 29 de julho do corrente ano, torna público sua posição contrária a retomada do calendário letivo de 2020, mesmo que por meio do chamado “ensino remoto” em situação emergencial, bem como, sua descrença na implementação desse modelo sem o diálogo aludido e sem que determinadas condições básicas sejam atendidas.

Os Institutos Federais, em especial o Ifal, destacam-se nacionalmente pela excelência na prestação de serviços educacionais e ensino público de altíssima qualidade, ainda, como uma “escola inclusiva” e que fortemente contribui para a emancipação de pessoas, por meio de uma educação que forma para a vida, para o mundo do trabalho e para o exercício da cidadania, conectando atividades de ensino, pesquisa e extensão. Essencialmente se trata de uma instituição educacional voltada para as atividades presenciais de ensino e aprendizagem.

Acreditamos que a retomada do calendário de 2020, nesse momento, ainda põe em risco, por um lado, a qualidade do serviço prestado à população, por outro, contradiz o caráter inclusivo da instituição, pois ainda hoje seus servidores e servidoras não passaram por massiva capacitação para a atuação profissional/educacional mediada pelas tecnologias de informação e comunicação, como também, infelizmente, ainda não se tem a certeza que não teremos estudantes excluídos/as das atividades letivas. O que tem sido realizado até agora, nesses tempos pandêmicos, de maneira tácita, tem demonstrado que nem todos /as estudantes têm conseguido participar, por diversos motivos, dessas atividades.

Antes de pensar em retomar o calendário letivo de 2020 via “ensino remoto”, é preciso refletir sobre as seguintes questões:

  1. Qual a real situação social, econômica e cultural dos estudantes e das estudantes do Ifal?
  2. Em especial, como está a questão do acesso à tecnologia e internet desses/dessas estudantes?
  3. Qual é a sua real condição para estudar no ambiente doméstico por meio do ensino remoto?
  4. Qual a real situação dos servidores e servidoras do Ifal para atuarem remotamente, no que diz respeito às condições de trabalho em casa, acesso às tecnologias necessárias e internet?
  5. Garantir essas condições de trabalho aos/às servidoras em casa é responsabilidade de quem?
  6. Que atenção e garantias o Ifal dará aos seus profissionais e às suas profissionais que são mães e pais de crianças pequenas e que peculiarmente têm sido ainda mais exigidas e exigidos nestes tempos de pandemia? (Vide a Carta-Manifesto “Pela Valorização do Cuidar”, aprovada em Assembleia, na qual explicita dificuldades das servidoras e dos servidores na realização do trabalho e no exercício da maternagem em momento de Pandemia.)
  7. O Ifal adotará alguma medida especial de cuidado com a saúde dos seus trabalhadores e trabalhadoras, como também da comunidade escolar envolvida nessa nova situação de ter que cumprir com as exigências de um calendário escolar sendo tocado por meio do ensino remoto emergencial em tempos de pandemia?

Ainda com relação aos discentes, merece registro o posicionamento dos Núcelos de Estudos Afro-brasileiros e indígenas – NEABIs da rede Ifal, importante instância que estuda as realidades das populações indígenas e negras. Numa carta pública, posicionaram-se externando  preocupação  com o princípio da isonomia para o acesso ao ensino por parte dos estudantes. O documento alerta para graves contrastes socioeconômicos e consequentemente exclusão digital ou fragilidade no acesso. Ainda conforme o documento: “68,46% dos alunos estão em situação de vulnerabilidade social. Quanto aos negros/as e pardos/as, representam 72,94% dos alunos, tendo 73,82% dos alunos negros renda familiar de até um salário mínimo. Os indígenas no Ifal correspondem a 0,39% dos alunos e 67,39% têm renda familiar de até um salário mínimo”.

O Ifal precisa primeiro apresentar as respostas a essas questões. Enquanto isso não for feito somos contra qualquer retorno que não tenha amplas condições de uma educação de qualidade e que socialmente responsável se faça de maneira integradora e inclusiva. É com reponsabilidade e sensatez que vemos como temerária a retomada do calendário para já.

Solicitamos que sejam criadas estratégias para a realização de audiência pública entre a reitoria, aqueles e aquelas que dirigem a instituição e a larga comunidade que a integra, desde seu corpo profissional, como também o corpo discente e suas famílias. O Ifal precisa expor com clareza e transparência a realidade do contexto que o toma e assim, coletivamente, se avalie a necessidade de retomada do calendário e conjuntamente se planeje e construa da melhor maneira esse processo.

 

Assembleia Geral Extraordinária dos/as servidores/as do Ifal

Nenhum estudante para trás: Assembleia Geral virtual firma posição contra o ensino remoto

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